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Aires Torres:
O Homem, o Revolucionário, o Poeta

O tenente José Augusto Aires Torres (Parada de Pinhão 1893 – Porto 1979) foi uma notável personalidade transmontana - duriense que desenvolveu uma intensa e relevante actividade cívica em defesa da República e da Democracia, distinguindo-se também por uma diversificada vocação artística, que encontrou na expressão poética a forma mais conseguida de manifestação.

No plano de acção política, a análise do percurso biográfico de Aires Torres revela-nos uma personalidade que teve uma participação activa em alguns dos acontecimentos mais significativos da história de Portugal da primeira metade do século XX.

Assim, em 1915, integrou as tropas portuguesas que, sob o comando do General Pereira d´Eça, combateu na guerra colonial, em Angola. Em 1926, acompanhou e opôs-se às movimentações militares que estiveram na origem do golpe que, no dia 28 de Maio desse ano instaurou a Ditadura Militar em Portugal. Em Fevereiro de 1927, na cidade do Porto, participou na malograda tentativa de deposição do regime ditatorial português, o que o levou ao exílio em Espanha e França, à clandestinidade, à prisão e, posteriormente, a um ostracismo social e político, que só terminou com a revolução do 25 de Abril de 1974.
Enquanto poeta, Aires Torres foi influenciado pelo Movimento da Renascença Portuguesa, pelo poeta Teixeira de Pascoais e pelo filósofo Leonardo Coimbra. Iniciou a sua carreira literária na consagrada revista A Águia, com a publicação, em Fevereiro de 1923, do poema A Fogueira na Montanha. Em 1925, ainda com a chancela da Renascença Portuguesa, publicou o seu primeiro livro de poemas intitulado Inquietação.

Vicissitudes de ordem pessoal e política levaram a que só mais de vinte anos depois, em 1946, Aires Torres publicasse o seu segundo livro que intitulou Anda às Voltas o Mundo. Neste livro, influenciado pela tragédia da II Guerra Mundial e pela opressão política e social exercida pelo regime do Estado Novo, o autor expressava a sua visão do Mundo e do Homem.

Para além de ter como objectivo primordial resgatar do esquecimento público a figura de um notável poeta e cidadão, a Casa Aires Torres pretende ser também um pólo de preservação e divulgação da vida e obra do poeta, procurando desta forma contribuir para a valorização e estudo da sua obra.

1893

José Augusto Aires Torres, filho de José Augusto Artur Fernandes Torres e Ana Maria Aires Vilela, viveu em Parada do Pinhão, concelho de Sabrosa. Foi influenciado pela figura do pai e pela terra onde nasceu, que marcaram a sua personalidade enquanto homem.

1908

Depois de ter terminado o ensino primário, e por solicitação do seu tio paterno, Zeferino Torres, matriculou-se no Colégio Roseira, em Lamego, que frequentou entre 1908 e 1910. Aos 15 anos, Aires Torres revelava a sua vocação poética e as suas opções políticas, ao assumir a causa da República.

1911

Com 18 anos começa a frequentar a Escola de Arte de Representar (actual Conservatório Nacional).

1914

Concluiu os estudos na Escola de Arte de Representar com a nota máxima. Obteve o 1º prémio desta escola. Dotado de uma apurada sensibilidade artística, foi convidado pelo Governo para os quadros do Teatro Nacional. Ainda nesse ano, é recrutado para a guerra do Ultramar. Em 27 de Dezembro de 1914, parte para o sul de Angola, integrado na coluna de operações, comandada pelo general Pereira d’Eça.

1915

Regressa a Portugal, em 1915, e retoma a sua carreira da ator no Teatro Nacional. Neste ano integra o elenco da peça Furtar, da autoria de Bento Mântua, no Teatro Nacional.

1917

Integrado no Corpo Expedicionário Português (CEP), parte para a Flandres, em 21 de Junho de 1917, para participar na Primeira Guerra Mundial. Interrompe definitivamente a sua carreira artística.

1920

Na sequência da assinatura do armistício, regressa a Portugal, em 17 de Fevereiro, depois de ter combatido na Flandres. Estabelece-se no Regimento de Infantaria 13 de Vila Real, mas após uma curta permanência é transferido para uma unidade do Porto.

1923

Inicia a sua carreira literária com a publicação do poema A Fogueira na Montanha na revista A Águia, em Fevereiro. Casa, em 28 de Julho, com Maria Vitória de Moura Coutinho.

1925

Publica o seu primeiro livro de poemas, com o título Inquietação. Esta obra é recebida de forma muito positiva, por parte da crítica especializada.

1926

Em 28 de Maio, dá-se um golpe militar que instaura a ditadura em Portugal. Aires Torres e outros democratas começam a organizar um golpe revolucionário com o objectivo de restaurar a República.

1927

A 3 de Fevereiro, participa numa tentativa revolucionária, com a intenção de devolver a democracia a Portugal. Ferido em combate, é internado no dia 6 de Fevereiro no posto da Cruz Vermelha. Fracassada a tentativa revolucionária, sai de Portugal e exila-se em Vigo e, posteriormente, em Paris. Contribui para a criação da Liga de Defesa da Republica, conhecida por Liga de Paris, que tinha como objectivo restaurar a democracia em Portugal. Publica nesse ano, no jornal clandestino O Reviralho, o poema Á Carga! Em Maio desse ano, devido às dificuldades económicas que sentia para se manter em França, regressa a Portugal, onde passa a viver na clandestinidade.

1929

É preso em Janeiro. Cumpre pena na Casa de Reclusão da Trafaria de onde se evade, passando a viver novamente na clandestinidade.

1932

Em 14 de Junho é preso novamente. Permanece na Casa de Reclusão do Porto até 7 de Dezembro de 1932 e é libertado nessa data. A sua libertação é integrada num conjunto de amnistias determinadas pelo Governo, aquando da instauração do Estado Novo. Regressa à vida militar.

1946

Abandona a carreira militar e, a convite do Conde da Covilhã, Dr. Júlio Anahory de Quental Calheiros, Inicia uma nova fase da sua vida como Chefe dos serviços de propaganda da “Mabor”, fábrica de borracha. Esta experiência durou poucos anos. Publica o seu segundo livro de poemas, Anda às Voltas o Mundo. À semelhança do primeiro livro, também este foi aclamado pela crítica literária. A 22 de Dezembro, o seu filho Fernão Torres morre prematuramente. A ele dedicou o poema Meu Filho:

1958

Colabora esporadicamente no Jornal de Felgueiras, onde publica alguns poemas.

1979

Passa os últimos anos de vida entre a Casa da Lage, em Gémeos, Celorico de Basto, e a sua casa no Porto. Aí morre, no dia 10 de Fevereiro. Diminuído física e mentalmente, não se apercebeu que a revolução democrática que ansiara toda a vida havia já acontecido, em 25 de Abril de 1974.